23.8.05

Newton, Schopenhauer, Machado; Zeca e eu

Acredito que no fundo as pessoas são todas iguais na essência, oscilando entre o bem o mal e algo no meio, querendo transar, ter uma vida legal, um emprego bom, enfim, algo como a felicidade como já disse em parte o Zeca que passeou com todas as despesas pagas pelo Fantástico por um montão de países exóticos.
Estou cansado de perceber que tudo já foi escrito, de questionar a profundeza de reações químicas neurológicas e depressivas, de ter desperdiçado anos de vida sob o jugo tolo e inescapável da "escola", de não saber o que é carga elétrica ou gravidade (de ser impossível saber); perguntaram a Newton por que havia tal força proporcional ao produto das massas sobre o quadrado da distância e ele respondeu porque era a vontade de Deus ou algo que o valha e não deixa de ser um gênio.
Pelo menos já descobri que não havia entendido absolutamente nada de um Machado tudo-menos-realista-talvez-o-primeiro-concretista-ou-talvez-moderno, assim cometo a covardia masoquista de citar nosso velho amigo iconoclastairônico Brás (sob a sombra de Schopenhauer, segundo alguns):

"Imagina tu, leitor, uma redução dos séculos, e um desfilar de todos eles, as raças todas, todas as paixões, o tumulto dos impérios, a guerra dos apetites e dos ódios, a destruição recíproca dos seres e das cousas.Tal era o espetáculo, acerbo e curioso espetáculo. (...) Os séculos desfilavam um turbilhão, e, não obstante, porque os olhos do delírio são outros, eu via tudo o que passava diante de mim, – flagelos e delícias, – desde essa cousa que se chama glória até essa outra que se chama miséria, e via a miséria agravando a debilidade. Aí vinham a cobiça que devora, a cólera que inflama, a inveja que baba, e a enxada e a pena úmidas de suor, e a ambição, a fome, a vaidade, a melancolia, a riqueza, o amor, e todos agitavam o homem, como um chocalho, até destruí-lo como um farrapo. Eram as formas várias de um mal, que ora mordia a víscera, ora mordia o pensamento, e passeava eternamente as suas vestes de arlequim, em derredor da espécie humana. A dor cedia alguma vez, mas cedia à indiferença, que era um sono sem sonhos, ou ao prazer, que era uma dor bastarda. Então o homem, flagelado e rebelde, corria diante da fatalidade das cousas, atrás de uma figura nebulosa e esquiva, feita de retalhos, um retalho de impalpável, outro de improvável, outro de invisível, cosidos todos a ponto precário, com a agulha da imaginação; e essa figura, – nada menos que a quimera da felicidade, – lhe fugia perpetuamente, ou deixava-se apanhar pela fralda, e o homem a cingia ao peito, e então ela ria, com um escárnio, e sumia-se, como ilusão"